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Resenha - Vox - Minha Biblioteca


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Sinopse: O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade.
Esse é só o começo…
Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir.
Mas não é o fim.
Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz

Autora: Christina Dalcher

Editora: Arqueiro

Páginas: 320

✰✰


Vox tem um “plano de fundo” tentador e atrativo, o contexto em que a autora nos colocada é digno de uma série de livros, mas que após terminar esse, espero que não tenha.

O livro começa com uma narrativa lenta, detalhada e até mesmo entediante, ela conta como é sua vida após a lei de 100 palavras por dia, tanto como esposa tanto quanto mãe de quatro filhos. Todos os seus pertences de estudos foram confiscados pelo marido, Patrick, e trancados, ela não pode pegar correspondência, nem ter acesso a passaporte e internet, além de várias outras restrições. O ponto forte do início do livro é a tentativa da personagem principal em manter sua relação com a pequena Sonia, sua filha, a mesma didica palavras especiais a pequena. O amor pelo Sonia a fez arriscar tudo e entrar em um laboratorio novamente.


“ Use as palavras, garota. Você tem palavras, não tem?”


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Meu problema com Vox é a construção precária dos personagens, além de furos na narrativa e uma personagem principal difícil de engolir. O fundo da história, com o governo e as complicações que mulheres sofrem é muito bem construido, não posso e nem ouso, negar o quanto a autora foi expecional nessa parte. Mas o resto…

Vamos por partes: Patrick, marido da Jean é descrito no livro inteiro como um medroso, não faz nada além do que lhe pedem e segue na linha, sem opinião, no final e muito do nada, ele começa a ser visto pela principal como um homem bom e digno. E olha que eu nem estou citando o que aconteceu no final com ele, estou citando o antes disso. Houve construtiva para mudar o jeito que a Jean ver ele? Uma ou duas cenas, no máximo.

Aliás, Jean trai o marido a tempos, antes até do governo atual entrar em vigor, o nome do amante é Lorenzo e em nenhum momento da história o adultério é visto como uma problemática, na verdade, parece algo comum e natural. Patrick, quando descobre, nada faz e fica por isso mesmo.


Pisque uma vez para sim, duas para não


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Os filhos da personagem são todos jogados de escanteio, no início, ela prezava pela Sonia mas depois a menina pouco apareceu. Já o Steven e os gêmeos, esses sim, são ignorados do início ao fim, os gêmeos mal aparecem e sinceramente, se eu não prestasse atenção era como se eles nem existissem. A personagem não parece nutri nada por eles, nem ódio e nem amor. No caso do Steven, o odio é claro. O mais velho dos filhos e o que mais tem cabeça fechada, por causa do tipo de conhecimento que recebe na escola, Jean não sabe como lidar com ele e as vezes perde a cabeça e a razão fácil demais. Uma parte que eu tenho que citar que é SUPER SPOILER ( pule esse parágrafo, caso não queira receber) é quando Steven foge e ninguém vai atrás, nem o pai bonzinho e nem a mãe corajosa, NINGUÉM LIGA! Ele é humilhado em rede nacional e preso, mas quem vai atrás dele são Del e Sharon ( donos desse livro) e ainda por cima, os dois debocham do resgate ao comentar com Jean que foi super fácil. Foi super facil, mas a mãe dele não ligou o suficiente para ir atrás, só chorar um pouquinho e voltar a atenção ao Lorenzo, pelo visto.

Quando falo em furos na narrativa me refiro a cenas que foram escritas e que deveriam, pelo menos, serem citadas depois. Porém, o caso é que parece ter sido colocado na lista do esquecimento. Não cito exemplos porque seria muitoooo spoiler, mas se você leu e não percebeu isso, é porque o livro corre demais e você tem que se atentar ao que a narrativa já tinha dito antes. Aliás, isso é algo bem comum nesse livro: a adivinhação. Eu me sentir o próprio FBI em certas cenas, seguindo pistas para tentar entender o porque de tudo, tinha cenas que era tão subjetiva que você tinha que prestar muito atenção, porque a autora ia passar reto e você não teria a chance de ter uma explicação clara maior do que aquilo. Outras cenas você ficava no vácuo do espaço mesmo e sem explicação clara, eu ficava muito assim, quando a personagem principal começava a executar planos, nunca entendi nada do que tava rolando até as consequências chegarem. Não ia sendo explicado o raciocíonio, ia sendo feito e você que lute para entender o porquê, onde, causa e consequência. Além de personagens que foram citados durante o enredo, mas nunca apareceram.


Perdão? Não escutei

Eu disse “não”. É uma negativa, Morgan. Uma recusa ao seu pedido. O oposto da concordância”


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Sobre a personagem principal, vem o dilema: eu não gostei dela. Chata, irresponsável, entediante, com um caráter duvidoso e por ai vai. A forma como ela trata os filhos e o marido, mesmo eu não gostando do marido em si e nem conhecendo direito os filhos, me deixava nervosa. Além da personagem lutar somente por si e por sua filha, nada de outras mulheres não. Talvez bem no fundo, no último plano, porém nada muito forte, como a sinopse indica. Desde o início ela quer o básico para a filha dela e ela, não quer mudar o mundo, e de certa forma, ela o aceita. E desde o princípio ela tem esse pensamento de aceitar, sua amiga de faculdade lutava para não chegar a essa situação precária e ela não ligava, dizia que era besteira e que nunca ia acontecer… bom, aconteceu. Jackie, amiga da principal, é rainha desse livro, mesmo tendo poucas cenas.

Não sei se a autora quis passar uma imagem de realismo na personagem, pois não tem tanto heroísmo, e sim muito pé no chão e aceitação do ambiente, mas para mim, não colou. Quem resolve tudo no final é quem estava como secundário, como Sharon e Del ( casados lindos e lutadores), e até mesmo Patrick. Mas na realidade, a problematica do livro não é resolvida no final. A problematica é minimizada para as mulheres, e para Jean sim é solucionada, para ela e sua nova familia feliz de filme. Porque enquanto ela vive seus felizes para sempre, quem sempre lutou por revolução continua lutando. Sharon, Del e Jackie perfeitos e os únicos que eu defendo. O resto? o que eu tenho a ver?

Enfim, a finalização da história foi corrida demais e tudo acabou de uma forma muito fácil, sinceramente, o ponto forte do livro é contexto em que ele está inserido, nada além disso.


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Sim, eu faria qualquer coisa. Eu mataria


Comentários


Miguel Cordovil
Miguel Cordovil
06 de out. de 2020

Só pela sinopse pareceu um livro promissor e tendencioso, mas quando vc disse que seria uma crítica bem forte pro lado negativo eu não pensei que seria tão forte.

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